domingo, 2 de agosto de 2009





"Ângela. – Um dia desses vi sobre a mesa uma talhada de melancia. E, assim sobre a mesa nua, parecia o riso de um louco. (não sei explicar melhor). Não fosse a resignação a um mundo que me obriga a ser sensata, como eu gritaria de susto às alegres monstruosidades pré-históricas da terra. Só um infante não se espanta: também ele é uma alegre monstruosidade que se repete desde o começo da historia do homem. Só depois é que vem o medo, apaziguamento do medo, a negação do medo – a civilização enfim. Enquanto isso sobre a mesa nua, a talhada gigante de melancia vermelha. Sou grata aos meus olhos que ainda se espantam tanto. Ainda verei muitas coisas. Pra fala a verdade, mesmo sem melancia, uma mesa nua também é algo pra ser visto."

Clarice Lispector

2 comentários:

  1. Realmente. Tudo é algo novo pra ser visto com novos olhos. Clarice é simplesmente perfeita.

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  2. Eu amo essa parte do livro, e realmente deviamos ser menos sensatos, nos espantarmos com as alegres mostruosidades do mundo.

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